quinta-feira, 10 de maio de 2018

SENTIMENTO DE PEÃO


                         SENTIMENTO DE PEÃO
                                                                
Meu sentimento profundo
É buscar coisas no mundo
Que se extraviaram na vida,
Recuerdos da minha infância
Quando cresci lá na estância     
E amadureci c’oa lida.

Eu tinha por companheiro
Meu velho pingo sogueiro
Pra recolher a tropilha,                                     
Formavam no parapeito
No mas chegava com jeito        
Para arreglar as encilhas.

Na lida fui bem ativo
Na volta o pé no “estrivo”
Pra o trono nos pelegos,
Trazia o dia a cabresto    
Pra o serviço pegar preço          
O campo não dá sossego...

O destino me deu um tombo                     
Num pealo de sobre lombo
Me fez estancar o grito!                       
E a cada passe de lua
É a realidade crua!
Que vou sorvendo solito.

Quem dera pai das alturas
Que acabassem as agruras
E o tempo voltasse atrás
Para rever a peonada
Fazer formar a manada
As ordens do capataz.       
                    
                        O campo ficou em silêncio
Juntamente com o Terêncio
Sem crer na fatalidade,
Amarguei a triste sina
Tosado de cola e crina
Num corredor da cidade!

                                                   Lua minguante de maio 2011.
                                                             Getulio Silva e Batista SB.

quarta-feira, 9 de maio de 2018


BEBENDO AUSÊNCIA
(Chote)

Vou bebendo ausência dentro do galpão!
Em cada amargo que eu sorvo só...
Pois chegou ao fim uma louca paixão!
O que era concreto agora virou pó...

Na ânsia de vê-la, olho na janela...
E o meu coração fica em alvoroço
Porque não aguento a saudade dela...
Tornou-se difícil roer esse osso!...

O amor que nasce a primeira vista...
Pode ser sublime na literatura!
Mas o tempo passa e vai crescendo a crista...
E chega num ponto que ninguém se atura.


Eu sei que dói nela e muito mais em mim,
O caminho inverso dessa vida potra!
Como é que pode terminar assim!
Um romance puro de uma hora pra outra...

Porque o tempo voa e não tem quem segure...
No espaço da vida o destino define!
Pois se não há mal, que sempre perdure...
Também não há bem, que nunca termine...

                                       Lua crescente de janeiro/2012.
                                       Getulio Silva & Mario Nenê.

                                      BAIO CAPA PRETA

Aporriei um pingo baio
Desengonçado porte feio
“P’ra” esses torenas povoeiros
Que querem “montá” em rodeio
E nem bem senta no basto
Bufa e salta se arrodeando
O lombo vira num arco
E se debulha corcoveando.

Bufando, rangendo dente
Mete o focinho entre as mãos
Se o índio tem “perna” frouxa
Larga que é um trapo no chão
“Veiaqueando” não adianta
Amadrinhar dos dois “lado”
Pois nem carrapato gruda
No lombo deste aporriado.

É pior que dedo nos “zóio”
Com pimenta malagueta
Nem São “Corcóvio” da jeito
Neste baio capa preta
Rinchando vira cambota
Roçando o lombo no pasto
E uma flor do campo enfeita
A cabeça do meu basto.


Berrando e dando pinote
Coiceando “p’ra” todo lado
Rasga capão de espinilho
Cruza sangão e alambrado
Deixa o taura fincado
No meio dos tacurus
Com a cabeça enterrada
No ninho das “avestruz”.

            
               Letra: Getulio Silva e Silvestre Araujo
               Música: Walther Morais       

terça-feira, 8 de maio de 2018



NOS PESSUELOS DA MEMÓRIA

Ouço um resmungo de gaita
E um ponteio de violão
Uma milonga no rádio
Falando de tradição
Pôr capricho do destino
Não golpeio mais potros
Estou bem longe do campo
Num rancho em riba dos outros.

Num povoeiro da cidade
Nestes ranchitos empilhados
Sinto saudade da sombra
De um cinamomo entonado
Um coice no pensamento
E a canha no “mas” golpeio
Lembrando das carreiradas
E os entreveiros “mais feio”

Um dia eu quero voltar
No destino não tem quem mande
Eu quero me arrinconar
Nalgum fundão do Rio Grande.

Gostava de uma carpeta
De testa eu era doutor
Fazia um verso rimado
Para cantar uma flor
Guardo o osso da tava
Do garrão do boi brazino
P’ra deixar a sorte clavada
No culo do meu destino.

Nos pessuelos da memória
Palmilho meu pago santo
Dedilho meu velho pinho
“P’ra” poder conter o pranto
Lembrando a minha querência
Suas belezas e encantos
Canto a saudade que sinto
Sinto a saudade que canto.

 Getulio Silva/ Marcus Vigolo.